JA VEM JANEIRO NA JANELA

AS DOBRAS DO OUTRO
ES-
paço, elas já vem aí, Hói, já se inclinam e se lançam às linhas com o mar, as tênues com o mal do estar-se, e por pouco, e não chegar. Não cruze com a rinha com os cães que hão do outro lado – esse é o conselho em toda esquina nas ruas daqui, desse lugar. Eles são de briga. E a toda intriga, eles vão adorar. Não há ninguém pra almar desse lado, de cá. As ruas andam escuras e suas criaturas ninguém quer criar, e não há ninguém em parte alguma, mesmo nenhuma, em quem confiar. Eles andam sorrindo, os rostos amarelos, inebriados, nas ruas, castelos, por onde olhar. Eu já não deixo de me tentar e escapar em todo sol. Sempre um sozinho, e o ninho, por deixe estar. Eles ainda hão de se armar contra mim, antes do fim e tudo. E, sobretudo, contudo mesmo, hão de tentar. Cavo as covas rasas com as unhas mortas, deixando minhas marcas; nas portas, minhas castas pra trás. Todos que fazem parte disso se deixaram levar, por medo e outros tentos. Sei lá contar.
Dou as costas a tudo isso. Eu ouço as musicas e toda náusea, e toda causa pro caos que aí está. Custo acreditar. Não dou valor. Nem é de muito que vim pra cá, andava por aí, solto, envolto em minhas verdes brumas, e minhas ilhas noturnas, vi desmanchar. Leves por levar, daí pra cá, leve por deixar, tudo onde está. Eu não vi bem quando foi, mas sei também, quem chamar quando devo orar. Chorar não choro mais, nem me iria adiantar a esta altura. Me lanço entre os prédios num vôo difícil e lento, são meus pensamentos, querem vigiar. Já ando louco e pouco a pouco um elucidar, eu quase sei lidar com isso, mas quem vai ligar? Quem vai ligar às três da manhã se eu não voltar? Vão ligar pra ti? Acho que não. Toda noite eu assisto aos shows da TV, ao noticiário. Toda noite. Toda noite eu durmo, eu morro e desperto outro de manhã, livre de meus sonhos noturnos, toda e toda manhã eu sou outro e tem de ser outro por recriar. E creio, creio que me sou inteiro e sôo assim, de todo intenso. Espesso, eu nem me esqueço de “re-essênciar”. Passeio as ruas do recreio como se até fosse janeiro e o sol por brilhar, mas não, é sempre cinza o céu que não é seu, mas é o que há. Não há muita graça nem nessa desgraça que há que meça – vá nessa olhar, a beleza é mesmo morta. Eu tranco a porta pra não deixar entrar, mas entra quando venta ela vem e me salta a janela, era sempre ela - feito ladrão matreiro, que sorrateiro, para comprar seu pão e droga, pega e se joga pra me roubar: o sono. Eu sano tudo de um jeito insano e louco, já fui ébrio mas agora solto, sou bem que um pouco, eu já ando louco e nem mais me poupo podendo gastar, perder meu tempo, esse vento lento, esse desalento que vem de mim para o outro, vem mais de dentro que possa sonhar. Eu morro de medo de me acordar como me peguei dormindo, entre estranhas entranhas, e não era eu. Era ela! - A dona morte. Não tinha o rosto, e o desgosto de mim, transbordava. Eu me encharcava e as pedras da rua, tudo me descia ao nada, uma enxurrada. Hoje ainda é assim. Me esgoto no esgoto sem o que lamentar, mas lamento, e lamento tudo e isso. O vento não deixa em soprar nos mares do sul, ao norte, e ate a morte, se tiver sorte, nem vá durar a dor, perdurar, seja como for, há todo um furor no riso das meninas frigidas desfiando folhas, destrinchando flores de todo um lugar – elas dançam e cantam pra te encantar, em todo canto, e em todo pranto – pode perguntar. Eles não dirão, mas adorariam contar o que se passa na entressafra. Ninguém se safa. Um dia é caça, no outro a “raça”, quer lhe matar. Eles vão lhe perseguir e se conseguir se evitar, ainda assim, vai querer dar fim, e eles tentarão também. Seus cavalos não são alados, nem são dragões, mas voam muito bem. Sei bem que, aos becos, aos jargões com essa cidade, eles tocam o terror, e a essa idade, já são bem modernos. Seus ternos alinhados sempre seguem a linha e todo um vinco, seus punhos são serrados, trazem suas adagas, punhais e outras armas. Serio! Essas ruas já foram mais seguras. Hoje é que são assim: escuras. Essas esquinas e suas figuras, esguias, escorregadias, elas me dão calafrios, esse frio sem postura. Minha coluna dói, eu vou desligar – Já ali vem o sol pra saldar a praia. E Kaya! Já vem janeiro.

Um comentário:

Maria Rosa Teles disse...

"É impossível mentir para o mar".Seja ele de água salgada,doce,gente,sonhos,devaneios,vozes,concreto ou ternos bem cortados.

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