Todo dia.


Todos os dias eu sou acordado com o alarme pré-programado de meu despertador. O qual; odeio profundamente a ponto de quando passo à paulista - com a pressa que me é comum pela manhã - por uma banca dessas ‘camelô’ que lhe ofertam qualquer bugiganga por qualquer dinheiro e lá está sempre um deles a tocar e zunir qualquer coisa odiosa dentro de mim ao passo de lhe querer matar, destruir tudo ali.

Todos os dias eu ando ainda com o sono que demorei encontrar quando me fui deitar - a maior parte dos dias é pensando em você que me mantenho acordado. Ando com o sono a que custo afastar nessa hora em particular, tateio o caminho pra topar na mobília que ali está me esperando. Vou tateando a parede, tapeando o desastre enquanto busco o interruptor da luz pra acender pra me cegar aquela altura e conseguir chegar a pia e a lavadura e os dentes escovar, o banho tomar e poder cagar em paz - não nessa ordem, mas tenho as minhas.

Todos os dias são seis e meia quando consigo ver algum sentido no uniforme que visto e trajo daqui pra rua com a fome que em mim perdura até o terminal. Lá, tomo um pingado com um par dormido e um queijo prato mal-esquentado na chapa suja. Pago dois reais. - tenho uma vontade enorme de pedir um cigarro ao velho do escarro que vejo por lá todas as manhãs. Mas nunca faço, eu já não fumo, nem perco o carro se não é de outro atraso que nem sei imaginar.

Todos os dias eu transo a cidade no transito e tráfego e é o mesmo estrago, tudo apertado, chego amassado, e me pergunto como pode um suado tão cedo à essa hora já ter-se azedado como pudesse nascer estragado ou por outro lado como é possível caber tanta gente assim neste estado - tem algo errado! - parece que todo o mundo se move no fundo pra o mesmo lado e no mesmo horário. Parece hilário, mas é o contrario.

Todos os dias eu chego atrasado meus seis minutos e dou de cara com a mesma cara do cara na porta do edifício achando difícil de me acreditar quando sempre eu digo não mais me atrasar - o ponto é um ponto contra que um dia eu acho que não, mas vão me jogar. Mas sempre eu bato mesmo atrasado por ter chegado conforme o esperado das oito as quatro. (bem a final, é o que roga o contrato)

Todos os dias na hora do almoço eu faço um esforço pra poder voltar aquele lugar e fingir me ocupar pra me empregar e pagar as contas com a grana - curta - que finge me dar. 

Todos os dias no fim do turno eu já noturno pareço encontrar alguma força que me tire a forca que sinto apertar o dia todo... Que me dá nojo. E custo vomitar. É como engasgar o tempo inteiro de janeiro ao outro, e no fim... Ter feito assim, parte de mim, todo esse engodo.

Todos os dias já sob as luzes da cidade eu nem me lembro à vaidade de fazer verdade em tudo que toco e escuto, de todos os tudo bem e os como vai que deixei na mesa, dos amarelos nos elevadores, dos desaforos que fingi calar repetindo sempre baixinho no caminho de seja lá onde me ouvi chamar... Odeio tanto tudo o que faço que às vezes, acho já me acostumar. Mas tudo parece querer mudar. Você verá, mas não adianta mais me procurar.

Todos os dias de uns dias pra cá as coisas todas resolvi mudar quando acordo tarde por dormir tarde e o sol que arde durante a tarde é o mesmo sol que em toda parte faz-se em alarde já do outro lado dessa cidade é que vão me encontrar. Quando não me escondo nas salas das alas vermelhas desse HC é no resplandecer das rochas, ondas da minha Guaeca - que de lá pra cá, é onde sinto melhor viver só e por apenas pensar em te ver. 
Às vezes até, se quer saber... Pareço poder.

(quer apostar?)

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