INDIE, PENDÊNCIA


A cidade tem sua cor. Age de forma estranha com o céu, ofusca. Mas passa um tempo e tudo, a noite cai sob a cidade. Há um som de sirene sondando a noite. Há um estado de alerta. Numa praça, em algum lugar do mundo, centenas de homens erguem uma estátua ante o protesto e aprovação de outras centenas de homens que gritam e congestionam as imediações da praça onde uma estatua esta sendo erguida em memória a um homem de paz. Era quatro de julho.

A noite tem uma boca imensa. Pode-se vê-la daqui da varanda de meu quarto de dormir, de onde também se ouvem palavrões ditos por homens ensandecidos e mulheres perdidas. Pássaros que trepam amor selvagem como se o mundo dependesse disso. Musica. Musica. Elevação!

Um corpo cai no oco da noite, mergulha no sujo do asfalto. Depois de um tempo o corpo ensangüentado deixa de emitir gritos alucinados e só deixa transparecer a expressão do terror. Eu troco o som. Um vendedor de sanduíches caminha devagar por uma rua do planeta, ele não presta a tensão de cidade. Encravando comentários sem podar, arrotando filosofias viajadas – todas pelo lado de fora. Antropologia, tecnologia, informação e linguagens. Coisas com o imenso mar.
As linhas elétricas foram cortadas. Noite de outono na America. Pessoas falam uma língua estranha e gesticulam distancias. Seus pés estão cansados, o corpo suado, a roupa suja. O garoto sorridente pede uma esmola e agradece a atenção. Quanto lhe custa o não? O perdão está a venda.
A boca do mundo tem grandes dentes que, no entanto, não são visíveis do lugar onde você está. O som de algumas músicas melancólicas invade a noite, e jovens corações enamorados parecem sentir as emoções de amores tantos. Há luz em seu olhar.
Eu me lembro de você em noites assim. E bebo sem brindar.
No jornal a noticia da morte do ditador das horas e o tempo. O aquecimento global. A queda da moça. O homem das ruas não presta atenção ao menino aleijado que grita as notícias na esquina de uma das ruas do mundo. Um velho prédio irá se desmoronar sobre os desavisados. Eu me esgoto no esgoto da vida e vertigem. O universo inteiro num espiral. Pra onde tudo isso?
A boca do mundo começa a vomitar na imensa privada do mundo. Emaranhados fios, redes telefônicas e elétricas. Aviões chovem dos céus na TV. Estilhaços de uma bomba jogada na luta pela paz atingem o rosto de uma menina que caiu pelo chão. Cidades como Nova York e Londres encontram-se sob blecaute total. Duas pessoas fazem amor num automóvel numa rua próxima de casa. Morre outra celebridade. Mais uma dose?
A estátua da liberdade deixa cair uma lagrima. Uma voz triste embriagada canta um blues num bar noturno. Um cão ladra faminto. Há, também, homens bêbados entre lésbicas cantando canções natalinas. Um telefone toca sem parar. Sou visto bêbado cambaleando numa avenida da cidade. Ninguém me reconhece. Meninas idiotas dão risadas idiotas nas alamedas de um Shopping Center. Um homem ascende seu charuto e ri a modernidade, os outros fumam maconha pra esquecer. Minha turma é legal. Filmes de Glauber, Woody Allen e Godard. Musicas embalando sonhos. Risadas largas. Café e cigarros. Fotografias.
Uma jovem ganha toda minha atenção. Ao redor, paredes vazias, barulho distante dos automóveis e naves espaciais. Televisão ligada sem som. Imagens disformes. Lembranças disformes. Planos.

Enquanto um grupo de padres católicos comemora ruidosamente as perspectivas de salvação da humanidade segundo as ordens estabelecidas pelo reino dos céus. Em edição extraordinária os noticiários de televisão anunciam que um incêndio de grandes proporções acaba de consumir... Ah quem é que liga?
Na longa noite, tantas angústias. Bruxas e ervas. Livros de Wally Salomão. Discos de Jorge Mautner. White Horse. Cognaque barato, sapatos chulos... Um político é encontrado, possivelmente assassinado num quarto de bordel no centro. O povo comemora algum feriado entre frango farofa. Cerveja nacional. Hoje nem tem futebol. A polícia saiu às ruas e quebrando vidraças. Alguém quebrou a ordem - ninguém viu. É tudo uma grande festa. A ciranda ja vai começar...




Power corrupts, Money corrupts, Love corrupts, Culture corrupts, and Religion corrupts, Cold Weather corrupts, Hunger corrupts, Ambitions corrupts, Sex corrupts, Life corrupts, (the act of living is pure corruption), old age corrupts, I corrupts, the word corruption is a word that have a color-/rupture

O poeta noturno deita-se em sua cama noturna num aristocrático bairro da cidade. Despido de seus sonhos diurnos. A noite passa calada e ele por ela, em pedaços. Sonhos tilintam nos bolsos.

Eu me lembro de uns caras andando na estrada, seus rostos pareciam com o meu. Hey, Gustaf, você é americano? O motorista do ônibus perguntou quando o dia amanhecia. Daí o que se ouviu foi não. Era o silêncio. A tranquilidade que só o desespero dá. Eu sou daqui e sou de lá, era de qualquer lugar. E já era quase dia na cidade e seu mangue. E tanto tempo se perdeu ate que então.
Adolescência despedaçada entre marcas de pneus e o cheiro de perfume barato em quartos de hotéis baratos. A estrada tem uma historia longa e misteriosa. Asfalto, poderes mágicos da felicidade. E um cara sentado numa poltrona, no terraço do hotel, perdido em filosofias, vislumbra um salto ao infinito. Uma procissão de brancas figuras iluminadas por velas numa cidade de interior choram e velam algum que se foi por terra. A sala tem mobília simples, uma mesa, seis cadeiras antigas. Há relógio grande e uma velha senhora repousa seus ossos cansados numa poltrona ainda mais, colocada no canto à esquerda. Seu sorriso é bondoso.
A porta entreaberta deixa entrar a luz que ilumina a respiração de uma menina que se acaricia nua. Olhar perdido através da janela. A noite é longa, ao longe, a igreja, um lugar quieto e fotogênico.
Uma velha beata de cara ruim reza algum terço. Outra vende pipocas. Elas devem passar o dia rezando pensando que vira a salvação por suas palavras e pensamentos distorcidos. A elas nunca ocorrerá que esta salvação viria por atos que nunca irão praticar. Daria uma boa fotografia. Tudo sempre dá. No sudeste do país o céu é vermelho nesta época do ano, e ninguém sorri por isso.

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