Trancage: Ha um cheiro de flor no teu olhar

Ha um cheiro de flor no teu olhar

O verde se espalha e espelha n'água n'algum riacho. Aceno jóia. Um casal recém-casado se abraça sem porque em algum canto do mundo, seus risos rasos deixam transparecer profundos sentimentos, - sentidos são pra onde? Difícil dizer. Tudo segue sem se ver.

Eu permaneço quieto com meu céu de dentro iluminado à luz de um abajur, pessoas param para ver. Rosas ganhando cor com a encruzilhada, perdendo cheiro; o barro e o seu sabor. Velas ao vento; as chamo todas e pelo nome. As escadas repousam sozinhas. Nos muros as fotografias, recortes de um tempo e esquina: eu vôo no meu balanço, o corpo a mostra e a esguia idéia de ser meu dia. As arvores se lançam pra eu ver, caminho. Os pombos sobre a cidade; o transito de manhazinha. Um homem contempla o caos com o seu cachorro quente. Tenta se opor a torre que cai inevitável; controla o peso entre as mordidas.

Pessoas que passam com pressa. Seus rostos? Não da pra ver. No céu há uma nuvem que se espalha e espelha ao asfalto, - acho que vai chover. O salto inevitável, a queda e a velocidade terrível na passagem. Tudo tão iminente, eu tenho em mente que um dia acaba de acontecer, - são quase onze horas. Uma moça perdida cercando pombos gira na praça central, têm um sorriso lindo, envolto a fumaça e o sujo de seus cabelos, canta sua liberdade num tom de cinza que só a cidade a entende bem. Chora entre outra esquina, onde seu filho perdeu-se um dia.

Ele não volta mais, ouvi dizer.

Um homem de meia idade posa com seu sorriso aos monumentos enquanto a tarde se arde sozinha sobre a cidade, enquanto que num outro canto do mundo, outro se cansa com a esperança no seu destino num parapeito - o vôo já se anuncia silencioso, meio a surdina. Eu, cá por mim não tenho ninguém. Minha mãe rainha, me espera voltar sorrindo, ensaia o riso, transpõem o choro e silencia. Os trens vão para onde? Minha mãe caminha com sua sombrinha entre a cidade olhando as caixas, correspondências. Ela quer engolir o futuro como todos nós.

Ela ainda quer saber de você... Não mais que eu.

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V o c ê q u e e s t á a í p a r a d o, c e r c a d o d e s i m e s m o, e n t r e u m a c h a c i n a e u m a p e d r a n o c a m i n h o c o m e s s a b o c a v a z i a. P r o v e d a s o b r e m e s a v i r t u a l T r a n c a g e – a q u e l a q u e n ã o f a z m a l. p o d e r á s e e n v o l v e r e m t u d o q u e a c o n t e c e u n a p r é-h i s t ó r i a, o u , s e p r e f e r i r , na pré-histérica cultura de sangue e fumaça. O n d e, o m a c a c o p e l a d o d e s c e u d a s a r v o r e s p r a s e t o r n a r h o m e m e t o r n a r d e n o v o. D i v i r t a – s e p o r e s s e l a b i r i n t o d e v e r d a d e s q u e t r o m b a m o s p o r a í n a s e s q u i n a s e s c u r a s d o p e n s a m e n t o, s u b v e r t e n d o a o r d e m d e a c h a r q u e t u d o t ã o r a c i o n a l, q u a n d o q u a s e s e m p r e é r e d u n d a n t e e o c o n t r a r i o. V o c ê s a b e q u e t u d o é t ã o r e a l t a n t o q u a n t o p o s s a, q u e a s r u a s s ã o q u a s e r e t a s e a s e s q u i n a s, s e m i – c u r v a s. T u d o b e m s e e s t ã o t e e s p i o n a n d o. T u d o b e m, s e s u a c a b e ç a j a m a i s s e r á j o g a d a n u m l i q u id i f i c a d o r. É c l a r o q u e u m l í n g u a n a b o c a d e u m a m u l h e r a m a r g a l a m b u z a s e u s s o n h o s m a i s a n i m a l e s c o s, e é b o m, n ã o é? C o n h e c e – s e o r e m é d i o p r a t o s s e, g a r a n t e – s e a p o s s e e n a s v e i a s, c o r r e m u i t o o u p o u c o s a n g u e; p o d e – s e i n j e t a r t r a n q ü i l i z a n t e, o u o q u e m a i s e q u a n d o. E q u a n d o e s t i v e r b e m c a n s a d o, f u m e u m c i g a r r o, o u q u e q u i s e r. S e f e c h e à p o r t a. S u a n a m o r a d a? A p a i x o n e – s e , o u e s q u e ç a - a. m a s o q u e v o c ê n ã o s a b e, o q u e v o c ê n ã o s a b e é d o b u r a c o n e g r o, d o o p o s t o, d o e s c u r o a n o s e n g o l i r. V o c ê n ã o a g ü e n t a r i a c o m o n ã o g o s t a d e p a r a n ó i a s, d o m e d o, d o i r r e a l, d a m a n i a, d o v í c i o, d a c a r t a - b o m b a, d a m o r t e, d a s u a p o u c a s o r t e, d a q u e l a m u l h e r m e n i n a t o n t a q u e i n s i s t e e m n ã o e s t a r p r o n t a e v o m i t a e m v o c ê a s r e g r a s d o c o m o s e r e q u a n d o. V o c ê n ã o g o s t a e s a b e o p o r q u ê. N ã o s e c u r a o A I D S. O C â n c e r, a l e p r a. N ã o s e c u r a a f a l t a d e s e c u r i t y, m a s, m e s mo a s s i m... J á q u e v o c ê s a b e d e t u d o, e n ã o s a b e d e n a d a, a b r e s e u l a b o r a t ó r i o e v e n h a b u s c a r a f o r m u l a d e s o n h o s b a t i d o s q u e e u p r e p a r e i; s a b o r e i e d a s o b r e m e s a q u e e u f i z p r a v o c ê. Trancage é pra se libertar, q u e s e j a a s s i m c o n t i g o t a m b é m. A s s i m m e s m o: b e m v i n d o. M u i t o o b r i g a d o , e p a s s a r b e m